TEXTO 01:
VOLTA REDONDA, CENTRALIDADE MODERNA E INDUSTRIAL, NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA FLUMINENSE, RJ.
O café marca expressivamente o crescimento econômico de toda a região do médio Vale do Paraíba na primeira metade do século XIX (1820-1850). As sacas da extensa produção cafeeira com destinos ao Rio de Janeiro começam a ser transportadas pelas tropas e, a partir da chegada da Estrada de Ferro D. Pedro II em Barra do Piraí, em 1864, incrementa-se o escoamento pelo transporte fluvial, que ligava o Campo Belo (atual Itatiaia) à estação de Barra do Piraí. Essa atividade marca o início da ocupação urbana de Volta Redonda em torno de 1964, quando surge o povoado de Santo Antônio à margem esquerda do Rio Paraíba do Sul funcionando como um porto fluvial. O surgimento das edificações neste primeiro povoado cumpre as funções residenciais e, essencialmente, a atividade comercial, de provimento dos viajantes.
A década de 1870 marcou a chegada da Estrada de Ferro D.Pedro II à Barra Mansa (1871), rumo a São Paulo. A estação de Volta Redonda foi conquistada também em 1871, estabelecendo-se à margem direita do Rio Paraíba do Sul. Por essas circunstâncias se anunciou a necessidade de ligação entre as duas centralidades localizadas em margens distintas, o que aconteceu na ocasião da construção da ponte sobre o Rio Paraíba do Sul que ligava a estação e seus passageiros à nucleação comercial original. Os “dois lados” do lugar Volta Redonda foram, a partir daí, culturalmente demarcados por essa ligação. Conectadas pela estrada de ferro, as cidades do médio Vale do Paraíba abandonam, a partir de 1872, o transporte fluvial, optando exclusivamente pelo transporte ferroviário para pessoas e mercadorias.
A partir da década de 1880, o declínio da produção cafeeira coloca em crise todo o vale do café. O povoado de Santo de Antônio da Volta Redonda, que timidamente se apresentava fica, por décadas, marcado por certa referência comercial para a atividade das fazendas, adquiridas em grande parte pelos mineiros que chegam à região pelo ramal ferroviário da Oeste de Minas, vinculando-se à produção agropecuária. O povoado de Volta Redonda é reconhecido como oitavo distrito na republicana Barra Mansa em 1926 e sua estrutura administrativa passa a se articular à centralidade comercial e posteriormente industrial assumida pelo município de Barra Mansa, eleito pelo governo brasileiro por seus atributos locacionais como território preferencial para a instalação do parque industrial siderúrgico na década de 1930.
Volta Redonda apresentava junto à várzea vazia do Rio Paraíba do Sul as características necessárias para abrigar uma planta siderúrgica de proporções inimagináveis para um Brasil que muito recentemente se industrializava. O projeto siderúrgico apresentava a necessidade de organização de uma Vila Operária, que foi projetada pelo arquiteto e urbanista Attílio Corrêa Lima em 1941, e construída no transcorrer dos anos subsequentes de implantação da usina. O projeto, inspirado nas referências urbanísticas trazidas por Attílio Correa Lima em seus anos de estudos recentes na Europa, define e hierarquiza o espaço da moradia operária, organizando também os setores comerciais e de serviços para os mesmos, O projeto, inspirado nas referências urbanísticas trazidas por Attílio Correa Lima em seus anos de estudos recentes na Europa, define e hierarquiza o espaço da moradia operária, organizando também os setores comerciais e de serviços para os mesmos.
Entre as décadas de 1940 a 1950, Volta Redonda recebeu um enorme contingente populacional que impactou não só o oitavo distrito de Barra Mansa, mas também todos os centros urbanos em seu entorno que passam a tê-la como referência. A crescente importância econômica e estratégica na esfera Nacional do Distrito Industrial de Volta Redonda leva-o à emancipação em 1954.
Entre as décadas de 1950 a 1970, a população da cidade cresceu expressivamente, bem além dos limites da Vila Operária, e a ocupação dos núcleos periféricos tornou-se imprescindível. Essa ocupação, que ocorreu em especial à margem esquerda do Rio Paraíba do Sul, mesmo não recebendo a mesma atenção do planejamento da Vila Operária, é pautada por certo controle do processo de ocupação por parte da administração municipal, diretamente vinculada às diretrizes e exigências técnicas da Companhia Siderúrgica Nacional, responsável pelo parcelamento de parte expressiva das terras urbanizadas.
Os anos que marcaram o período da Ditadura Militar no Brasil (1964-1984) marcaram também Volta Redonda como área de segurança estratégica dos sucessivos governos militares. Em certa medida, isso fomentou alguma preocupação com o planejamento e o controle territorial, demarcada pela execução posterior de muitos planos urbanísticos para a cidade, subsidiados e intermediados pela CSN, em especial após o Plano D de expansão da Usina. Dentre eles, podem-se destacar: Relatório Wit-Olaf, de 1969, Plano da ADESG, com participação do arquiteto Wanildo de Carvalho, de 1975; o Plano PEDI-VR elaborado por H.J. Cole Associados S.A., em janeiro de 1975, e o Plano Diretor – Hidroconsult, de 1980. Em especial, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, PEDI-VR, de 1975 traz, em seu trabalho de caracterização e diagnose de questões importantes sobre a compreensão da ecoforma do território de Volta Redonda, estruturada pelo Rio Paraíba do Sul, o que vai ser compreendido de forma lenta. Entretanto, nas áreas de expansão periférica mais distante desse controle paralelo entre Prefeitura Municipal e CSN, as ocupações irregulares tomam as áreas mais impeditivas ambientalmente, como as encostas e as áreas marginais ao Rio Paraíba do Sul. A década de 1980 assiste a chegada de uma leva de migrantes que não consegue mais ser absorvida pela indústria siderúrgica já em crise financeira; surgem bairros e complexos habitacionais irregulares frutos do deficit habitacional que a cidade, por mais investimentos técnicos e de infraestrutura que receba, não dá conta de atender.
A cidade, envolvida com a crise que assolou todo o país na década de 1980, assistiu ao paradoxal processo de privatização da CSN que se concluiu em 1992. A cidade já percebia, há alguns anos, o distanciamento paulatino da Usina em relação ao seu destino, cuidado, controle físico e social. Nos anos em que se perceberam o desemprego e a ausência de subsídios técnicos e de infraestrutura compartilhados anteriormente com a CSN, a Prefeitura assumiu, em processo, a autonomia de promover espaços de planejamento e controle sobre o território de Volta Redonda. Nesse sentido, ganharam força o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano, o IPPU-VR, fundado em 1977, e a COHAB-VR que cumprem importante papel na construção e desenvolvimento da cidade. O processo de privatização da CSN foi bastante traumático para a estrutura social e cultural da cidade. A herança paternalista da administração da usina foi sendo transformada durante os anos da crise econômica (década de 1980) e culminou com uma privatização demissionária e insensível (1992).
A centralidade da Usina, marcada por sua imagem, seu poder de empregabilidade e provimento das necessidades essenciais de moradia, infraestrutura, educação e saúde de seu operariado, foi se retirando mais rapidamente do que o lastro cultural e social que havia construído ao longo de 40 anos. A população da cidade enfrenta, durante as décadas de 1980-90, não só uma crise econômica, de desemprego evidente, marcante em todo o país, mas uma crise estrutural transformadora, sobretudo na tomada de posição política da sua administração municipal. Os governos municipais que se sucedem preocupam-se em ressignificar a esperança e o crédito na cidade, em certa medida arrancados com o processo de privatização e de crise econômica nacional. Bastante fragilizada estruturalmente, Volta Redonda reestrutura, aos poucos, seus valores simbólicos, seu patrimônio coletivo enquanto cidade.
O governo de Wanildo de Carvalho (1988-1992), substituto do aclamado prefeito Juarez Antunes, de origem operária, morto em acidente automobilístico, vivencia exatamente o momento mais crítico da crise que leva à privatização, presenciando a greve histórica da CSN, em 1988, que culmina com três operários mortos dentro da Usina. Mesmo diante de tantos conflitos externos e internos (ligados a estrutura do governo municipal), o prefeito anuncia e executa parcialmente o Plano 2000 que tem, dentre outras propostas, a meta de ocupação da grande gleba vazia no bairro Aero Clube junto à curva do Rio, projetada por Lúcio Costa e equipe. O Plano 2000 pretendia estabelecer, com uma série de obras “renovadoras”, para um futuro bem próximo, novas âncoras de revitalização da cidade a partir das intervenções arquitetônicas e urbanísticas.
O governo de Paulo Cesar Baltazar (1993- 1996) se coloca no desafio de realinhar e afirmar o posicionamento da administração municipal frente aos moradores e à própria CSN. Alcança credibilidade, sistematizando uma série de procedimentos de reorganização, dinamização e controle urbanísticos e outras políticas públicas essenciais, como as de Saúde e Educação. Os governos municipais que se sucedem continuam a encarar o enorme desafio de manter a centralidade urbanística e econômica de Volta Redonda, no Médio Vale do Paraíba Fluminense, investindo na pluralidade de ancoragens para sua economia e sociedade, em contraponto à reorganização da atividade industrial siderúrgica que se estabelece.
VERBETE: Jean Vitor de Oliveira Campos
FONTE DE PESQUISA:
MOREIRA, Andréa Auad. Paraíba do Sul: um rio, quatro cidades, um patrimônio socioambiental em questão. Rio de Janeiro: UFRJ / FAU, 2014.
TEXTO 02
Apresentação Digital do Seminário Ambiental
VOLTA REDONDA: HISTÓRICO DA URBANIZAÇÃO
Bases para uma Cidade Resiliente
Andréa Auad Moreira
Arquiteta e Urbanista
Doutora em Urbanismo
Docente UGB/FERP
https://drive.google.com/file/d/1SjvstvcyEb7sfZZr5mxMck5DwxjG8WUb/view?usp=sharing
TEXTO 03
APRESENTAÇÃO CONGRESSO NACIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – CONIC SEMESP 2021.
PROJETO PLATATAFORMA MEMÓRIA VIVA – UGB -FERP – 2021
https://drive.google.com/file/d/1FKUfcsZbxJ-XbYKFkF8Bn_NNVL994eaf/view?usp=share_link
TEXTO 04
APRESENTAÇÃO CONGRESSO NACIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – CONIC SEMESP – 2022
PROJETO PESQUISADORES DA MEMÓRIA – UGB-FERP – 2022
https://drive.google.com/file/d/1Kex3sx9s4Y4kBYvmuEragpIHPpvyM6Cv/view?usp=share_link
TEXTO 05
PROPOSTA DE PROSPECÇÃO DA MEMÓRIA
Pesquisador Fabrício Campos dos Santos Junior, 2022.
https://drive.google.com/file/d/1qFHL9fJeTXZ0zE3pqX_HT4ru6tljXUat/view?usp=share_link